segunda-feira, 27 de junho de 2011

Diário de Bordo (parte IV)

Eu visitei a prisão, local que eu jamais quero ter que entrar se não for voluntariamente. Alcatraz era o nome e eu lembrei instantaneamente de um filme com o Sean Connery e Nicholas Cage chamado “A Rocha”, que eu devo ter assistido umas 15 vezes durante a infância. O plot se passava na ilha de Alcatraz e um bando de ex-fuzileiros tomava conta do lugar e ameaçava explodir San Francisco por algum motivo, não lembro. O fato é que a visita foi ótima. Os americanos sabem como conduzir passeios de qualidade. Tinha um ‘audio tour’ muito bom com até uns efeitos sonoros divertidos enquanto a gente explorava as celas da prisão. Tudo em inglês, pra que eu não fique enferrujado. Eu comi bastante também, não durante o passeio. Depois. Eu só como nos Estados Unidos, não tem jeito.

San Francisco me encantou definitivamente e eu fiz praticamente tudo que um bom turista deveria fazer por aqui. Fui ao ‘Fisherman’s Wharf’ e comi uma sopa de Clam Chowder, assisti a uma partida de baseball do San Francisco Giants no estádio da AT&T, com direito a pipoca e cerveja de limão, e passeei por Alcatraz conhecendo tudo que havia para se ver por lá, até os jardins mantidos por voluntários e os ninhos de gaivotas. Me sinto realizado. Essa é uma cidade incrível. A visita ao parque Golden Gate ainda me levou a uma loja de vinis e CD’s antigos que trouxe Pet Shop Boys e Social Distortion à minha coleção, vou espremê-los entre Dookie  e Heathen Chemistry na sessão de discos memoráveis (ao menos para mim).
Meu glorioso São Paulo foi humilhado pelo cretino Corinthians por 5 a 0, com direito a frango do Rogério e arbitragem duvidosa. Ingredientes básicos para um desastre. Os gambás se regozijam dessa conquista mundana que só lhes traz prazer momentâneo. Vão à merda e fodam-se todos os Corinthianos (menos minha santa e imaculada Tia Sônia e meu querido Avô Luís), conquistem 3 brasileiros consecutivos e uma Libertadores sequer e a gente conversa de igual pra igual, até lá, contentem-se com Paulistinhas medíocres e títulos da série B. Agora que isso saiu do caminho posso continuar meu vislumbre com os EUA. Tudo aqui é grande, gordo e em imensas proporções. Que beleza!

São praticamente 10 da noite e apenas agora o Sol se pôs completamente, esse verão no hemisfério norte é meio maluco. Meu aniversário foi no domingo, mas as pessoas já começaram a me congratular às 8 da noite de sábado. Esse fuso horário é outra coisa meio maluca, meio não, totalmente. Por alguns instantes eu tinha 20 anos no Brasil, mas apenas 19 aqui na América do Norte. Imagino se fossem 18 anos, e não 20. Será que se eu cometesse um crime por aqui eu seria julgado como menor de acordo com o horário daqui e como maior de acordo com o horário de Brasília? Bizarro pensar isso, que eu cometeria um crime, digo.
Essa é minha última noite em San Francisco nesse verão (infelizmente) e, apesar de tudo, estou contente em voltar a Vegas. Esse frio opressivo ainda não caiu no meu gosto e vai ser bom poder cair na piscina do quintal podendo ouvir meus novos CD’s em alto e bom som, incomodando os vizinhos. Já diria o Tony Bennet “I Left My Heart in San Francisco”, mas o Elvis também me lembrou “Viva Las Vegas” e o show deve continuar.

sábado, 25 de junho de 2011

Diário de Bordo (parte III)

O carão do Steven Tyler  tá me encarando. As capas da Rolling Stone sempre me foram atrativas e perceber que a revista aqui na América é menor do que aquela coisa grande e desengonçada foi um alívio e um embaraço. Por que diabos é tão grande no Brasil? A Men’s Health, para alívio geral, é no mesmo formato. Não, não estou num consultório de dentista, vir até os Estados Unidos para isso seria simplesmente errado. Estou em San Francisco.
A viagem foi tão curta e eu acabei dormindo tanto que meus planos de escrever, mais uma vez, durante o vôo foi frustrado e trocado por uns roncos e mais uma passada na discografia do Oasis (sempre presente em viagens mais longas). San Francisco é um lugar fabuloso, ainda mais fabuloso que a fabulosa Las Vegas, e isso é dizer muito. O clima urbano e a proximidade do mar com certeza são grandes atrativos, mas esse frio desgraçado em pleno verão é um verdadeiro inferno. Qualquer brisa um pouco mais forte e eu sinto os ossos congelando. A cidade é muito bonita também. Há tempos atrás, quando visitei aqui pela primeira vez, ouvi dizer que San Francisco tem um “quê” de New York. Imagino que seja verdade.
Eu tentei tirar umas fotos para captar a essência da cidade, mas todas me pareceram muito comuns e nada reveladoras, então eu lembrei que sou um péssimo fotógrafo e Deus sabe como eu consegui passar (mais uma vez) por essa matéria na faculdade. Apesar de tudo, eu me esforço e acho que até consegui fazer um trabalho decente. De onde estou, dá pra ver a Bay Bridge (não faço a menor idéia se é esse mesmo o nome da ponte ou se é assim que se escreve. É uma ponte branca), que é uma versão genérica da famosa Golden Gate, mas com a vantagem de ser do outro lado da rua e um ponto turístico menos badalado. San Francisco é demais, eu já disse isso? A cidade exala um ar encantador, por mais gay que isso possa soar. Qualiás, ela é também a capital dos gays na América, ou foi o que disseram. Aparecer com minha sunguinha preta e estrear meu brinco de ouro branco na orelha direita aqui realmente não teria sido uma boa idéia. Esquecer a sunguinha preta foi providencial pois o brinquinho já estreou. A quantidade de japoneses por aqui também é gritante, quanto asiático!
Eu andei quase 10 quilômetros visitando restaurantes, mercados e gift shops. Isso é uma coisa impressionante. Eu quase não percebi a distância, foi tudo tão agradável e natural que se minha tia não houvesse me dito o quanto andamos eu nem teria notado, talvez fosse melhor assim. Meus joelhos teimam em doer. Malditos joelhos de menininha. Vou voltar à minha posição inicial no sofá: largado de qualquer jeito; é a melhor posição para se assistir a um filme e apesar de não estar passando algo decente, esse Far Cry vai ter que servir, já morreram umas 15 pessoas e nem 20 minutos de filme transcorreram. O filme promete. A noite “franciscana” me aguarda, então depois que terminar o filme e minha tia e seu namorado acordarem, que venham os agitos. É isso.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diario de Bordo (parte II)



A cara da mulher da imigração era claramente de alguém que não se sente feliz por me deixar entrar em seu país, mas ela não teve escolha. Toda minha documentação não apresentava problemas e, modéstia parte, sou bem apessoado o bastante para não ser confundido com um serial killer de criancinhas americanas, ou pior, um terrorista seqüestrador de aviões. Estou falando da paranóia dos Estados Unidos em relação a praticamente tudo. Não digo que não tenham razão. Se meu país explodisse cabeças no Oriente Médio e se vangloriasse por isso eu também ficaria muito paranóico. Apenas estou dizendo que é algo que incomoda, principalmente a nós, pobres turistas com nossos cartões de crédito internacionais cheios de amor (leia-se dinheiro) pra dar.
Atravessar Houston foi moleza, pensei que seria mais difícil, mas consegui relaxar o bastante a ponto de fazer uma piadinha na alfândega: “Você carrega consigo um valor superior a 10.000 dólares?”. “ I Wish” respondi. Cara, como eu sou espirituoso. 
Mais uma vez chacoalho em um avião e, mais uma vez, estou sobre a asa. É até interessante notar os flaps se recolhendo e movendo-se pra lá e pra cá de vez em quando. A aeronave é bem menor agora. Acho que eles pensam que não tem tanta gente fazendo a rota Houston-Las Vegas e acho que eles estão corretos. Mesmo nesse aviãozinho ainda há alguns assentos vagos.
A comida é paga. Isso é fundamental. No período de aproximadamente 11 horas que transcorreram entre meu embarque no Rio de Janeiro e a conexão em Houston eu tive 3 refeições. Todas bem gordas e gostosas, diga-se de passagem. Parei em um lugar que servia ovos mexidos com queijo cottage em 4 pães torrados na manteiga. Um deleite. O problema é que pouco antes, ainda no avião, comi um baita croissant com geléia e, antes ainda, meu jantar fora uma generosa porção de frango e vagem com direito a sobremesa e tudo mais. Me sinto gordo. Espero que minha namorada não se importe.
O sol abriu aqui no céu. Estava uma chuva dos infernos no Texas e isso atrasou mais de meia hora a decolagem. Tudo conspira contra minha chegada em Nevada. O tempo está realmente bonito agora, você precisava ver. Lá vem a comissária de bordo, que estranhamente me lembra a Cruela Cruel, com seu carrinho cheio de comida. Os olhos dela brilham quando alguém oferece o cartão de crédito para comprar alguma coisa, sério mesmo. Nem 2 horas nos Estados Unidos e tudo o que vejo pela frente é comida. É melhor apreciar a viagem por enquanto, o cara do meu lado resolveu cair pra cima de mim.

Diario de Bordo

Pelo que vejo no monitor, acabei de deixar mais da metade da floresta amazônica pra trás e, no horário de Brasília, nem 2 da manhã são. Inacreditável como o relógio parece ficar mais devagar quando se viaja, especialmente de avião. O desconforto do trajeto parece não ser castigo suficiente. Não. O tempo tem que passar mais lentamente também, faz parte do pacote. Deviam colocar isso logo de cara ao vender as passagens. Deviam mesmo.


“A paisagem deve ser linda” você pode argumentar. Bem, sei que fala isso só por consolo, pois tanto eu quanto você sabemos que, mesmo dispondo da luz do dia (não é o caso no momento), nada além de nuvens pode ser visto com clareza. Qualiás, até mesmo as sempre presentes nuvens estão encobertas pela asa gigantesca do avião. “Não é seu dia de sorte” você diria. Bem, há uma expressão em inglês que eu gosto de usar e acho que, mesmo havendo uma tradução bastante aproximada em português (minha língua mãe), ela não expressa exatamente o que quero dizer: I Beg to Differ.


Basta dizer que meu destino é Las Vegas. Sim. Aquela cidade do letreiro inconfundível e com os hotéis/cassinos mais famosos do mundo. Um lugar onde prostituas deixam anúncios no meio da rua e não duvido que comecem a panfletar em sinais logo logo. É importante deixar bem claro que eu não possuo os 21 anos de vida necessários para ter acesso às boates e jogatina, mas isso, de maneira nenhuma, diminui as expectativas da viagem. Os Estados Unidos da América é um dos locais mais fascinantes que já visitei (não, nunca fui à Europa). “Lá” as coisas parecem simplesmente funcionar. Tudo o que é desnecessariamente caro e burocrático no Brasil pode ser encontrado facilmente e sem grandes empecilhos na terra do Tio Sam.


Antes que meu anti-patriotismo o atinga bem no meio dos olhos, devo dizer que as pessoas na América são bem diferentes e sua simpatia forçada e frieza que parece exalar por cada poro ainda não me agradam muito. O Brasil é fantástico, apenas saindo dele que dá pra ter a real dimensão disso, mas suas limitações ainda fazem com que deixe muito a desejar. Os turistas adoram, vêem bundas e samba do jeitinho que lhes é informado antes de aterrissarem, mas só sendo brasileiro para entender a relação de amor e ódio com a própria pátria. Eu nasci e moro na capital, Brasília, e entendo bem essa realidade.


Acabei de ver um trovão estourar nas nuvens em volta do avião. Eu não tenho medo dessas coisas. Só achei legal comentar. Acabei de decolar do Rio de Janeiro. Os dias estavam lindos. O sol estava especialmente gostoso e o céu muito azul, um clima realmente agradável. De noite batia uma brisa mais gelada, mas a temperatura continuava boa. Tenho raízes no Rio. E por raízes eu quero dizer que quase nasci lá e grande parte da minha família morou/mora ou tem alguma história com a cidade. Sempre que posso visito meu avô e me encontro com meu lado marrento de “s” puxado. Eu realmente adoro praias e tudo o que elas têm a oferecer. É verão no hemisfério norte e, depois de experimentar a água de Fortaleza, Rio e Florianópolis, preciso comparar com o que vou encontrar no litoral norte-americano. Não fique pensando em Miami. Passarei relativamente longe da Flórida. Minhas aventuras serão majoritariamente na Califórnia, que é um estado. San Francisco, essa sim uma baita cidade, é meu destino mais certo e ouso dizer corriqueiro nesse mês de férias que terei em solo ‘estadosunidense’.


Tudo vai bem e creio que, assim como da última vez, essa viagem será impressionante. Só que, caramba, o tempo podia passar mais rápido dentro desse avião, minhas costas estão me matando. Vou agora sobrevoar a Colômbia. Um abraço.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Desconstruindo Amélia

Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair...

Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
Uooh!
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Uooh!
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra nigth ferver

(Pitty)