quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diario de Bordo (parte II)



A cara da mulher da imigração era claramente de alguém que não se sente feliz por me deixar entrar em seu país, mas ela não teve escolha. Toda minha documentação não apresentava problemas e, modéstia parte, sou bem apessoado o bastante para não ser confundido com um serial killer de criancinhas americanas, ou pior, um terrorista seqüestrador de aviões. Estou falando da paranóia dos Estados Unidos em relação a praticamente tudo. Não digo que não tenham razão. Se meu país explodisse cabeças no Oriente Médio e se vangloriasse por isso eu também ficaria muito paranóico. Apenas estou dizendo que é algo que incomoda, principalmente a nós, pobres turistas com nossos cartões de crédito internacionais cheios de amor (leia-se dinheiro) pra dar.
Atravessar Houston foi moleza, pensei que seria mais difícil, mas consegui relaxar o bastante a ponto de fazer uma piadinha na alfândega: “Você carrega consigo um valor superior a 10.000 dólares?”. “ I Wish” respondi. Cara, como eu sou espirituoso. 
Mais uma vez chacoalho em um avião e, mais uma vez, estou sobre a asa. É até interessante notar os flaps se recolhendo e movendo-se pra lá e pra cá de vez em quando. A aeronave é bem menor agora. Acho que eles pensam que não tem tanta gente fazendo a rota Houston-Las Vegas e acho que eles estão corretos. Mesmo nesse aviãozinho ainda há alguns assentos vagos.
A comida é paga. Isso é fundamental. No período de aproximadamente 11 horas que transcorreram entre meu embarque no Rio de Janeiro e a conexão em Houston eu tive 3 refeições. Todas bem gordas e gostosas, diga-se de passagem. Parei em um lugar que servia ovos mexidos com queijo cottage em 4 pães torrados na manteiga. Um deleite. O problema é que pouco antes, ainda no avião, comi um baita croissant com geléia e, antes ainda, meu jantar fora uma generosa porção de frango e vagem com direito a sobremesa e tudo mais. Me sinto gordo. Espero que minha namorada não se importe.
O sol abriu aqui no céu. Estava uma chuva dos infernos no Texas e isso atrasou mais de meia hora a decolagem. Tudo conspira contra minha chegada em Nevada. O tempo está realmente bonito agora, você precisava ver. Lá vem a comissária de bordo, que estranhamente me lembra a Cruela Cruel, com seu carrinho cheio de comida. Os olhos dela brilham quando alguém oferece o cartão de crédito para comprar alguma coisa, sério mesmo. Nem 2 horas nos Estados Unidos e tudo o que vejo pela frente é comida. É melhor apreciar a viagem por enquanto, o cara do meu lado resolveu cair pra cima de mim.

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