sexta-feira, 8 de julho de 2011

Diário de Bordo (parte VI)

The Happiest Place on Earth. Essa frase foi repetida mais de uma vez durante minha visita à Disneylândia, ou  Disneyland, se preferir. Antes de mais nada, é importante situar-se geograficamente. Eu estava na Califórnia, não na Flórida. Orlando estava do outro lado do país curtindo sua grandiosidade sem mim. Na verdade, é melhor falar que eu estava curtindo a grandiosidade da Califórnia sem Orlando, soa mais legítimo. Foram três dias de extensas caminhadas, filas e compras que fizeram minhas pernas tremerem ao fim do terceiro dia. Tudo valeu muito a pena.

A Disney deixou de ser, a meus olhos, uma fábrica de desenhos carismáticos. É uma mega empresa que trabalha com a diversão em nível industrial e engloba o seu consumidor de uma maneira quase irresistível. A sedução do brilho e luzes piscantes, que deveria se aplicar somente a crianças, estende-se, sem grande esforço, aos adultos. “Jovens” de 40 anos redescobrem seu gosto por broches que podem ser trocados como figurinhas e se aventuram em montanhas-russas que, mesmo aos 15 ou 18, jamais encarariam em sã consciência. Tudo parece programado para atrair da maneira mais consumista e capitalista possível. Marx morreria de desgosto ao assistir ao Mickey Mouse. O nível de detalhes e empreendedorismo aplicado a um parque temático do tamanho da Disney é algo que nenhuma sociedade socialista conseguiria alcançar. ‘God Bless America’ por ter vencido a Guerra Fria.

Eu fiquei verdadeiramente fascinado pelo local. Como um grande e chato cético, jamais pensei que cartazes e propagandas fossem me atingir tanto como na terra do Mickey. Tudo eu queria comprar, obter a qualquer custo. Todos os produtos pareciam extremamente chamativos e a vontade de me livrar de todos os dólares que eu carregava na carteira era intensa. Consegui me controlar relativamente bem, mas fiquei decepcionado com a minha falta de resistência. Pensei que, por ser um jornalista, jamais seria afetado por produtos dos meus irmãos de Comunicação Social. Malditos sejam vocês, publicitários! Vale ressaltar, no entanto, que meu bom-senso prevaleceu em boa parte do tempo e limitei meus desejos consumistas aos momentos de escolher presentes para os outros. Acho que me saí bem.

Seria injusto não comentar sobre a companhia. Minha primeira aventura na Disney contou com companheiros à altura da expectativa e diversão do momento. Entre gritos em queda livre dentro de elevadores amaldiçoados, berros ensandecidos em loopings de montanhas-russas, bocejos vigorosos em passeios entediantes e momentos de lamentação após refeições absurdamente calóricas, houve espaço para várias risadas, amizade e papos que preencheram a lacuna entre uma atração e outra perfeitamente bem. As coisas transcorreram como, aos 10 anos de idade, eu pensava que transcorreriam quando fosse visitar o parque da Disney, ou seja, perfeitas.

Tirar fotos ao lado do Pluto ou do Sr. Incrível, mesmo sabendo que são, provavelmente, mexicanos mal-pagos vestindo fantasias que valem seus salários mensais, possui um brilho e proporciona um prazer que, aos 20 anos, chega a ser vergonhoso admitir, mas é enorme. Acho vergonhoso assumir também que me arrepiei com o espetáculo de fogos de artifício em cima do castelo da Disney, uma réplica daquele famoso que aparece antes de cada filme. Sinceramente, não estou ligando. Regredi uns 10 anos assim que cruzei o tapete com o Mickey e vi o primeiro chapéu com a cara do Pateta. Tudo é tão mágico que o ‘mundo exterior’ fica quase sem importância. Tudo o que você precisa ou quer pode ser encontrado dentro do resort. Dentro do hotel logo ao lado, torneiras, toalhas, papel de parede, enfim, praticamente tudo, contava com as feições do Mickey Mouse, reforçando a idéia de que você adentrou um outro local. Um mundo completamente diferente e alheio. Essa é uma das formas de alienação mais bacanas de que já tive notícia. Fui, prazerosamente e sem arrependimento algum, alienado quase completamente por 3 dias inteiros. Durante minha estadia, o slogan foi mais verdadeiro do que nunca. Eu realmente estava no The Happiest Place on Earth.

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